De acordo com a Fé Cristã, o primeiro Dia da Igreja aconteceu cinquenta dias depois da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A tradição cristã, o testemunho bíblico e a atuação do Espírito Santo em cada nova geração de cristãos mantêm esse Dia vivo até os dias de hoje.
Antes da obra salvadora de Deus em Jesus Cristo não existia igreja. Existiam os templos e as assembleias do povo de Deus. Sim, o povo adorava a Deus. A religião era praticada e o povo conhecia Deus. Mas o caminho para conhecer Deus era sofrido. Deus se revelava, mas as pessoas não tinham critério para compreender e crer, pois o Evangelho ainda não existia. Em outros termos, a religião era o caminho do povo para Deus e o evangelho ainda não era o caminho de Deus para o povo. Como faltava a última parte, ficava difícil, pois faltava o principal.
Antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Povo de Israel já celebrava a Festa das Tendas. Isto acontece até hoje, passados 50 dias da celebração do aniversário da Passagem da escravidão no Egito para a fuga pelo deserto rumo à Terra Prometida. O povo vive sete dias em tendas para jamais se esquecer de como foi difícil viver assim no período da libertação. O Pentecostes cristão tem base nesse dia.
De acordo com os Atos dos Apóstolos, no capítulo 2, foi nesse dia de Pentecostes que o Espírito Santo desceu sobre os seguidores de Jesus Cristo. Mais impressionante que os sons e as línguas de fogo foi a mudança promovida nas pessoas: elas venceram barreiras de comunicação como o medo e os idiomas desconhecidos.
Se no Antigo Testamento (Gn 11) o poder hegemônico embutido no projeto da Torre de Babel, dando monopólio político, militar e econômico à Cidade–Estado da planície, é debelado pela intervenção de Deus com a distribuição de idiomas, agora a mesma ação divina viabiliza o projeto de propagação do evangelho de Jesus Cristo.
Por outro lado, se esta é a árvore da qual saem, para se alastrar pelo mundo, os galhos, as flores e as sementes do Evangelho, então esta árvore também tem raízes. E estas estão lançadas na profundidade do dia tenebroso que segue o dia da morte de Nosso Senhor. O Sábado de Aleluia, que é o “dia do tudo acabado” - pois Jesus já não vivia mais e seus seguidores iniciavam a lógica da dispersão - algumas mulheres resolveram embalsamar o corpo assim que passasse a lei do sábado e surgissem os primeiros raios do domingo. O gesto significa achar o que fazer quando já não há o que fazer.
A igreja de Jesus Cristo, que tem aniversário em Pentecostes, não deve se esquecer disso: sua concepção aconteceu 51 dias antes de nascer, no Sábado de Aleluia, quando aquelas mulheres acharam o que fazer, mesmo em “terra arrasada”. A igreja que nasceu em Pentecostes tem as raízes fincadas nesse chão representado pela decisão das mulheres de embalsamar o corpo. Diante dos olhos humanos, com a medida da relação custo-benefício, a ação é completamente absurda. “Que sentido faz?” é pergunta cabível. “Não adianta mais nada”, é constatação lógica.
Mas o que é loucura para os homens, para Deus é salvação. E nisso estão as raízes da igreja de Jesus Cristo.
Leonídio Gaede
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