Seminário Intersinodal
Venâncio Aires, 26 de maio de 2012
Participantes: Delegações dos
Sínodos Centro-Campanha Sul e Vale do Taquari, no contexto da Década de Lutero
e a partir de um programa de parceria conjunta com a Coordenação de Diaconia da
Secretaria de Ação Comunitária da IECLB . O P. Dr. Gottfried
Brakemeier foi o palestrante.
FÉ LUTERANA, DIACONIA E
RESPONSABILIDADE PÚBLICA.
I - Distintivos
da fé luterana
1)
A sua gratuidade. Está na base de nossa fé
que Evangelho não se deixa comprar ou vender. Mesmo que ocorressem certas
tramitações nas comunidades, indicando alguma permuta entre dinheiro e bens
comunitários, como se a comunidade fosse uma sociedade que presta benefício
religioso pago, teríamos o acordo de que fé e evangelho não estão à venda. O
Evangelho e a fé são presente de Deus. Tudo o que nós fazemos é resposta de gratidão.
2)
A sua inteligência. Está na base de nossa fé que
um momento de êxtase não substitui uma prática consciente. Embora constatemos
que nossas celebrações, em determinados casos, carecem de mais vibração e
cheguemos à conclusão de que nossos ritos são muito racionalizados, entendemos
que a inteligência da fé coloca limites às práticas que promovem ações comandadas
puramente por emoções.
3)
A sua oposição à privatização. Está na base de nossa fé
que ela determina a conduta e não o contrário. Nós nos conduzimos de acordo com
a fé que nos é dada através da pregação. Ninguém tem o direito de inventar a
sua própria fé.
4)
A sua reprovação à
monopolização do poder na igreja. Está na base de nossa fé o sacerdócio geral de
todas as pessoas que creem. Como luteranos e luteranas, sabemos que podemos
organizar a igreja, mas não podemos votar o Evangelho. Ele nos é dado e a
igreja não muda essa realidade.
II – Distintivos
da diaconia luterana
1)
A sua prática de misericórdia
e justiça. Praticar
diaconia luterana significa aceitar essas duas práticas como base de nossa fé:
a misericórdia e a justiça. Não só uma delas. A prática da misericórdia sem a
justiça pode ser puro assistencialismo e caridade que satisfaz o ego de quem
pratica. A prática da justiça sem a misericórdia pode significar autopromoção
da pessoa praticante a justiceira com base em critérios subjetivos.
2)
A sua confessionalidade ligada
à ação. A
prática de diaconia implica em reconhecer que não só seguimos uma confissão
luterana, mas também uma ação luterana. Não é possível confessar a fé luterana
e seguir outro modelo de ação, pois nossa ação testemunha nossa fé e não o
contrário. Agimos porque nos foi dada a fé e não temos fé porque agimos.
3)
A sua base nas diferenças. A prática de diaconia se
firma nas diferenças. Ocorrem equívocos no sentido de pensar que para servir é
necessário tornar-se igual ao que é servido ou então que, pelo serviço, o servido
se torna igual a quem serve. Outras vezes ainda tem-se pensado que o serviço do
diferente, supostamente superior, ofende o servido, supostamente inferior.
Lembramos que o próprio Cristo diz que um cego não pode guiar outro cego. O
serviço da diaconia se realiza, pois, na diferença.
III – Distintivos
da responsabilidade pública luterana
1)
A sua independência em
relação a partidos. A responsabilidade pública luterana é suprapartidária. Não é possível
estabelecer um diálogo entre fé luterana e partido, como se fossem duas
entidades que se correspondem num mesmo nível. A fé tem uma visão de um mundo
ali onde ele aparece dividido em partes, por ideias em oposição. A fé não é,
porém, apolítica. A polis é o seu assunto. O engajamento da fé na política está
no fato de ela não admitir o alheamento da prática política de sua finalidade
última, a promoção do ser político, do habitante da polis (cidade), da pessoa
cidadã.
2)
A sua capacidade de ler os
sinais dos tempos. A responsabilidade pública luterana deve levar a entender e interpretar
os acontecimentos relacionados à mudança climática e à necessidade de novas
atitudes de preservação ambiental a partir da frase: estamos comendo o nosso planeta. É, acima de tudo, por causa disso
que temos uma responsabilidade pública. E comer o planeta inclui, além do
esgotamento dos meios de vida em geral, a desfiguração do ser humano por
qualquer consequência do viver indigno, como qualquer tipo de fome e qualquer
tipo de violência.
Anotações: Leonídio Gaede
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