sexta-feira, 3 de agosto de 2012

FÉ LUTERANA, DIACONIA E RESPONSABILIDADE PÚBLICA


Seminário Intersinodal
Venâncio Aires, 26 de maio de 2012

Participantes: Delegações dos Sínodos Centro-Campanha Sul e Vale do Taquari, no contexto da Década de Lutero e a partir de um programa de parceria conjunta com a Coordenação de Diaconia da Secretaria de Ação Comunitária da IECLB . O P. Dr. Gottfried Brakemeier foi o palestrante.

FÉ LUTERANA, DIACONIA E RESPONSABILIDADE PÚBLICA.

I - Distintivos da fé luterana

1)       A sua gratuidade. Está na base de nossa fé que Evangelho não se deixa comprar ou vender. Mesmo que ocorressem certas tramitações nas comunidades, indicando alguma permuta entre dinheiro e bens comunitários, como se a comunidade fosse uma sociedade que presta benefício religioso pago, teríamos o acordo de que fé e evangelho não estão à venda. O Evangelho e a fé são presente de Deus. Tudo o que nós fazemos é resposta de gratidão.
2)       A sua inteligência. Está na base de nossa fé que um momento de êxtase não substitui uma prática consciente. Embora constatemos que nossas celebrações, em determinados casos, carecem de mais vibração e cheguemos à conclusão de que nossos ritos são muito racionalizados, entendemos que a inteligência da fé coloca limites às práticas que promovem ações comandadas puramente por emoções.
3)       A sua oposição à privatização. Está na base de nossa fé que ela determina a conduta e não o contrário. Nós nos conduzimos de acordo com a fé que nos é dada através da pregação. Ninguém tem o direito de inventar a sua própria fé.
4)       A sua reprovação à monopolização do poder na igreja. Está na base de nossa fé o sacerdócio geral de todas as pessoas que creem. Como luteranos e luteranas, sabemos que podemos organizar a igreja, mas não podemos votar o Evangelho. Ele nos é dado e a igreja não muda essa realidade.

II – Distintivos da diaconia luterana

1)       A sua prática de misericórdia e justiça. Praticar diaconia luterana significa aceitar essas duas práticas como base de nossa fé: a misericórdia e a justiça. Não só uma delas. A prática da misericórdia sem a justiça pode ser puro assistencialismo e caridade que satisfaz o ego de quem pratica. A prática da justiça sem a misericórdia pode significar autopromoção da pessoa praticante a justiceira com base em critérios subjetivos.
2)       A sua confessionalidade ligada à ação. A prática de diaconia implica em reconhecer que não só seguimos uma confissão luterana, mas também uma ação luterana. Não é possível confessar a fé luterana e seguir outro modelo de ação, pois nossa ação testemunha nossa fé e não o contrário. Agimos porque nos foi dada a fé e não temos fé porque agimos.
3)       A sua base nas diferenças. A prática de diaconia se firma nas diferenças. Ocorrem equívocos no sentido de pensar que para servir é necessário tornar-se igual ao que é servido ou então que, pelo serviço, o servido se torna igual a quem serve. Outras vezes ainda tem-se pensado que o serviço do diferente, supostamente superior, ofende o servido, supostamente inferior. Lembramos que o próprio Cristo diz que um cego não pode guiar outro cego. O serviço da diaconia se realiza, pois, na diferença.

III – Distintivos da responsabilidade pública luterana

1)       A sua independência em relação a partidos. A responsabilidade pública luterana é suprapartidária. Não é possível estabelecer um diálogo entre fé luterana e partido, como se fossem duas entidades que se correspondem num mesmo nível. A fé tem uma visão de um mundo ali onde ele aparece dividido em partes, por ideias em oposição. A fé não é, porém, apolítica. A polis é o seu assunto. O engajamento da fé na política está no fato de ela não admitir o alheamento da prática política de sua finalidade última, a promoção do ser político, do habitante da polis (cidade), da pessoa cidadã.
2)       A sua capacidade de ler os sinais dos tempos. A responsabilidade pública luterana deve levar a entender e interpretar os acontecimentos relacionados à mudança climática e à necessidade de novas atitudes de preservação ambiental a partir da frase: estamos comendo o nosso planeta. É, acima de tudo, por causa disso que temos uma responsabilidade pública. E comer o planeta inclui, além do esgotamento dos meios de vida em geral, a desfiguração do ser humano por qualquer consequência do viver indigno, como qualquer tipo de fome e qualquer tipo de violência.

Anotações:  Leonídio Gaede

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