sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Reflexões sobre o fim do mundo

Coisa mais difícil é admitir o fim do mundo. Pensar nele é como pensar no predador. Se ele nos pegar, acabará conosco. Sendo o fim do mundo o predador, a gente age como uma presa em potencial: foge. No reino animal - com exceção daquele animal que sabe que sabe - o jeito de fugir é correr em direção oposta ou se esconder. Os seres humanos - que sabem que sabem - inventaram novos jeitos de fugir, um deles é fazer gracinha. Quando aparece uma situação que não sabemos enfrentar, a transformamos em piada. É o nosso jeito de fugir do assunto. Precisamos fugir, pois trata-se de predador poderoso: não acabará  só conosco, mas com tudo mesmo. Por isso a ideia do fim do mundo dá bons filmes, boas piadas, enfim, viagens. As religiões bem organizadas têm uma história de fim do mundo. O Cristianismo tem.  Religiões que não conhecem ou não reconhecem o Cristianismo  também têm. O Cristianismo  adotou uma história de fim do mundo do Antigo Testamento, o dilúvio, e criou uma história de fim do mundo, a parusia.

Jesus de Nazaré, como o Bom Mestre, ensinou sobre o fim do mundo. Nicodemos, um grande religioso,  respondeu com gracinha: "porventura dá pra voltar ao útero e nascer de novo?" (Jo 3.4). Jesus respondeu: "Se tratando de coisas terrenas não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?" (Jo 3.12). Este é o nosso problema: não ficamos prontos com o nosso mundo velho, como entregá-lo?

Conta a estória que duas moscas caíram num copo de leite. Uma delas, percebendo que não achava jeito de sair, desistiu de lutar, afundou e pereceu. A outra continuou batendo as asas até transformar o leite ao seu redor em um bolo de manteiga, conseguindo, através dele, salvar-se. Parece já tratar-se da  lição, mas a estória está apenas em sua primeira parte. Continua contando que certo dia a mosca que se salvara caiu num copo d’água. Julgando que sabia como se salvar, iniciou a bater suas asas, esperando que a água virasse manteiga. Não levou à sério o fim do mundo. Se tivesse admitido o seu fim, isto é, o fim da bola de manteiga e tivesse aceitado o mundo novo, teria nadado até o canudinho e subido por ele.

Quando fomos batizados, foi o fim do mundo. Quando tomamos Santa Ceia, é o fim do mundo. Feliz Natal! Feliz Ano Novo! Feliz fim do mundo! Ano velho e mundo velho dá Alzheimer.

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