Tomaz Hughes e Carlos Mesters*
O texto situa-se no contexto do último Discurso de
Jesus, na Ceia Pascal. Começa logo após a saída de Judas para trair
Jesus, depois que Jesus lhe disse "o que você pretende fazer, faça-o
logo" (Jo 13, 27). Com a licença oficial dada ao agente de Satanás para
iniciar o processo que iria matá-lo, Jesus começa o processo da sua
glorificação.
A sua fidelidade ao projeto do Pai vai levá-lo à
Cruz, que, no Quarto Evangelho, não é um sinal de derrota, mas da
vitória última e permanente de Deus. Por isso, a morte de Jesus,
aparente vitória do mal, será a glorificação de Jesus, e nele, do Pai. O
anúncio da sua partida, para os judeus uma ameaça (v 33), é para a
comunidade dos seus discípulos um momento de emoção e carinho. A sua
última dádiva a eles é um novo mandamento: "eu dou a vocês um novo
mandamento: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês
devem se amar uns aos outros."(v 34).
O que há de novo neste mandamento?
O que diferencia a proposta de amor de Jesus e dos
seus seguidores de outras propostas já conhecidas? O mundo do tempo de
Jesus, tanto na sociedade pagã como judaica, conhecia propostas de amor
mútuo. O mandamento de Jesus é novo em primeiro lugar porque ele se
impõe como exigência essencial para entrar na comunidade "escatológica".
Essa é a comunidade que já experimenta a presença do
Reino de Deus, mesmo que ainda espere a sua plena realização, ou seja,
uma comunidade que experimenta a salvação já realizada em Jesus,
enquanto ainda experimenta a sua situação permanente de fraqueza. Também
é novo, porque não se fundamenta nas leis sobre o amor, da tradição
judaica (p. ex. Lv 19, 18, ou os documentos do Qumrã), mas na entrega de
si, de Jesus.
O modelo deste amor é o exemplo do próprio Jesus
"assim como eu vos amei!". E como ele nos amou? Entregando-se até a
morte, para que todos pudessem "ter a vida e a vida plenamente" (Jo
10,10). Este amor não é sinônimo de simpatia ou sentimento de atração.
Exige humildade e a disposição para o serviço que leva a morrer pelos
outros.
Este "morrer" normalmente não se expressa através
duma morte literal, mas morrendo diariamente ao egoísmo e à busca do
poder dominador, para que sejamos servidores, especialmente dos mais
humildes, ao exemplo do Mestre que "não veio para ser servido, mas para
servir" (cf. Mc 10,45).
Este amor e tão fundamental para a comunidade dos
discípulos de Jesus que deve ser tornar o seu sinal característico:
"assim todos reconhecerão que vocês são meus discípulos" (v. 35). Mais
do que uma lista de doutrinas, mais do que práticas litúrgicas ou
rituais, embora essas tenham o seu lugar e a sua importância, é o amor
mútuo e concreto que deve distinguir os discípulos de Jesus.
Atos dos Apóstolos nos lembra que "foi em Antioquia
que os discípulos receberam, pela primeira vez, o nome de "cristãos".
(At 11,26). Receberam uma nova designação, da parte dos outros, porque a
sua maneira de viver era marcadamente diferente das outras comunidades
religiosas da cidade - era marcada pelo amor mútuo.
O Evangelho de hoje nos convida para que honestamente
nos examinemos a nós mesmos, para verificar se este amor-serviço ainda é
a marca característica de nós, discípulos/as de Jesus, na nossa vida
individual e comunitária!
*Tomaz Hughes é assessor do CEBI-PR;
Carlos Mesters é assessor do Conselho Nacional do CEBI
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