sexta-feira, 17 de maio de 2019

Emoção e tranquilidade foram ingredientes do KERB 2019


Leonídio Gaede

Cabe à Comunidade de Itati a responsabilidade de levar adiante a Festa do KERB no Vale do Três Forquilhas. Toda a população local está envolvida na Festa com serviço voluntário, doações e participação. Inclusive os poderes públicos constituídos nos municípios do Vale estão envolvidos com diversas formas de apoio. Cabe, porém, à comunidade vinculada à IECLB a organização e a execução do evento.

Orientando-se pelo calendário lunar, a Festa ocorre no segundo domingo após a Páscoa. A edição de 2019 aconteceu, portanto, no dia 05 de maio.

É difícil dizer quando inicia a Festa. Se antigamente a festa começava antes, pois as famílias se preparavam com comida, bebida e traje novo para receber, durante três dias, a visita de parentes e amigos de longe e de perto, hoje um marco importante é o início do trabalho dos Casais Festeiros. O território do Vale é dividido em oito áreas e, em cada uma delas, atua um Casal Festeiro. A primeira tarefa de cada Casal é envolver pessoas, famílias e empresas no patrocínio da impressão dos flyers da Festa. Depois, com o convite em mãos, segue a visita de casa em casa, para entrega-lo e receber algum donativo para a Festa. 

O final da quarta-feira marca o tempo de cada Casal Festeiro entregar a sua arrecadação para a diretoria. Registre-se que cada um deles precisa entregar 1kg de amendoim torrado. Este será o conteúdo do famoso cartucho, pequena bolsa de papel pardo rodeada de papel colorido e recheada com amendoim, sucesso entre a criançada.
Quinta-feira de manhã, após a Oração de Abertura dos trabalhos, quando todas as equipes se constituem, nota-se um sentido terapêutico na atividade da confecção dos cartuchos: ela integra pessoas com restrições para outras atividades que exigem maior empenho físico. 


As Borboletas, os Rosquetes, as Roscas, as Cucas e os Bolos tem sua fabricação garantida na quinta e na sexta-feira. Entre mesas com farinhas, ovos e ingredientes de muitos tipos; entre tanques com temperos para muitas carnes; entre pias com ininterrupta lavação de louça e panelas, ajunta-se um alegre círculo de conversa empenhado na descasca de aipim e batata.  Integrantes do Grupo de Casais literalmente sobem as paredes para enfeitar o salão com as cores das bandeiras da Alemanha e do Rio Grande do Sul, e integrantes do Grupo de Jovens organizam e enfeitam as mesas para o serviço da refeição de 600 a 800 pessoas. 

Dessa forma, a Festa anunciada para domingo, já tem de quinta a sábado, o movimento diário de 30 a 60 pessoas engajadas em algum preparo.
No Domingo às 09h a igreja se enche com 300 pessoas para um Culto transmitido ao mundo via internet, graças à família que deu o seu apoio cultural à Rádio Clube do Povo de Três Forquilhas. No Culto rola a emoção pelo envolvimento com a música do Grupo de Louvor e pela recordação dos antepassados através da simbologia e dos assuntos tratados.
A saída do Culto acontece de forma ordenada, pois encaminha a procura da Garrafa do KERB, escondida pelos jovens em algum lugar do imenso pátio. Encontrada a Garrafa, a atração principal passa a ser o salão onde será servido o almoço. Na parte da tarde acontece a integração através da dança e o Sorteio do Mastro. Trata-se de um mastro erguido no pátio, em cujo topo está uma guirlanda com uma garrafa de vinho. Acontece um sorteio de diversos prêmios. A pessoa sorteada com o primeiro prêmio ganha um machado novo com o qual derruba o mastro. As pessoas ao redor disputam a garrafa no momento em que tomba o mastro. 

A garrafa escondida é encontrada por alguém pela sorte ou perspicácia e a garrafa fora do alcance no alto do mastro chega às mãos de alguém pela sorte na rifa, pela destreza no machado e pela agilidade no chegar primeiro. Esta é a mágica do KERB: nele posso encontrar o que está escondido, nele posso usufruir do que está fora do alcance. Nele posso ter a sorte de encontrar o sentido de participar de um ambiente que confraterniza, celebrando o que une e esquecendo o que divide. Nele posso ter a sorte de encontrar o amor de minha vida num leque que inclui a renovação da fé em Jesus Cristo ou da amizade com um semelhante ou mesmo pode incluir um namoro renovado ou novo.
Também a edição 2019 da Festa do KERB de Itati transmitiu autoconfiança às pessoas como parte de uma sociedade que tem setores bem organizados e segurança espiritual como comunidade que segue em paz a sua jornada, com o direito da emoção no louvor a Deus e do congraçamento de diferentes gerações, etnias e convicções políticas e religiosas. 


O KERB em Itati aconteceu em casas de famílias, não se sabe ao certo desde qual ano após a chegada dos imigrantes alemães no início do ano de 1827. Suspeita-se que tenha sido pouco tempo após.  A partir de 1963, a Festa começou a ser realizada no âmbito do pátio da igreja, no contexto da ampliação do templo, concluído em 1966. Em 2019 comemoramos o 56º KERB nessa “nova” modalidade, o 92º ano da torre de alvenaria e o 192º ano da chegada das primeiras 14 famílias alemãs no vale do rio Três Forquilhas.
Esse KERB histórico pode ser entendido como forma de afirmação social da colonização alemã. Ele proporciona que uma colônia visite a outra e que parentes da mesma colônia se encontrem. Quem festeja veste-se bem, come e bebe do bom e do melhor e promove barulho de festa durante três dias. São tratados e realizados negócios e casamentos se encaminham. Assim, a si próprios, à solidão e a quem quer que esteja ao seu redor, os imigrantes vão afirmando que existem e resistem, que estão indo bem e oxalá que estão crescendo.


Bibliografia: MISSAGLIA, Cyanna. O baile do KERB: representação da cultura alemã nas telas de Pedro Weingärtner. In: Revista Semina V. Nº 1, 2016

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