Leonídio Gaede
Estive pensando em dividir a nossa vida sobre a face da terra em
três partes: início, meio e fim. Cada uma das partes tem o seu governo. A primeira é o nosso nascimento. Esse
início não é governado por nós. Ele está nas mãos de Deus, de nosso pai, de
nossa mãe, do médico ou da médica ou ainda, mais antigamente, da parteira. Ninguém pergunta a opinião da pessoa que está
para nascer.
Basta,
porém, nascer e já começam os movimentos de tomada lenta e gradual das rédeas
do governo da própria vida. Aos poucos vamos assumindo os passos que damos.
Vamos escapando das mãos do pai e da mãe. E passa a existir uma fase na vida em
que praticamente tudo depende de nós. Quem estuda ou não somos nós. Quem vai
bem no colégio, ou não, somos nós. Assumimos o posto de governadores ou
governadoras de nossa própria vida.
Ao
final, se obtivermos a graça de envelhecer, o governo de nossa vida passa
novamente às mãos de Deus e de outras pessoas. Levam-nos pra tomar vacina, pra
tomar sol e, se tivermos sorte, pra tomar sorvete, ...
É interessante que Deus tenha construído a
vida de tal maneira que no início e no fim, digamos, a pessoa mais interessada,
não está no comando. Deus organizou assim que existem fases nas quais
precisamos de outras pessoas para viver e uma fase em que temos condições de,
além de nos governar, interferir na qualidade de vida e até no destino de
outras pessoas.
Em primeiro lugar, é bom que a decisão sobre o
início e o fim de nossa vida não esteja em nossas mãos. Se estivesse, provavelmente
atentaríamos contra nós mesmos. É bom depender de outros e de Deus, pois, como
diz Eclesiastes, “se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão”
(4.12).
Em segundo lugar, existe um perigo: na fase em
que governamos nossa vida, a fase do meio - a fase produtiva, do trabalho, da
produção de bens e da reprodução da espécie, governando outros seres que chegam
ao mundo - Deus e as outras pessoas correm o risco de sobrar. Igreja pra que?
Comunidade pra que? Deus pra que? Vizinho pra que? Sentimos muito vigor. Viva
eu no comando! Como é gostosa a sensação da autonomia! “Ser dono do próprio
nariz, era o que eu sempre quis!” De repente, porém, eis que estamos de novo
nas mãos de Deus e de outras pessoas, tomando isso e aquilo. Por isso é bonito
o Salmo 90: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos coração
sábio”.
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