terça-feira, 9 de junho de 2015

Para pensar

Leonídio Gaede

Estive pensando em dividir a nossa vida sobre a face da terra em três partes: início, meio e fim. Cada uma das partes tem o seu governo. A primeira é o nosso nascimento. Esse início não é governado por nós. Ele está nas mãos de Deus, de nosso pai, de nossa mãe, do médico ou da médica ou ainda, mais antigamente, da parteira.  Ninguém pergunta a opinião da pessoa que está para nascer.

Basta, porém, nascer e já começam os movimentos de tomada lenta e gradual das rédeas do governo da própria vida. Aos poucos vamos assumindo os passos que damos. Vamos escapando das mãos do pai e da mãe. E passa a existir uma fase na vida em que praticamente tudo depende de nós. Quem estuda ou não somos nós. Quem vai bem no colégio, ou não, somos nós. Assumimos o posto de governadores ou governadoras de nossa própria vida.

Ao final, se obtivermos a graça de envelhecer, o governo de nossa vida passa novamente às mãos de Deus e de outras pessoas. Levam-nos pra tomar vacina, pra tomar sol e, se tivermos sorte, pra tomar sorvete, ...

É interessante que Deus tenha construído a vida de tal maneira que no início e no fim, digamos, a pessoa mais interessada, não está no comando. Deus organizou assim que existem fases nas quais precisamos de outras pessoas para viver e uma fase em que temos condições de, além de nos governar, interferir na qualidade de vida e até no destino de outras pessoas.

Em primeiro lugar, é bom que a decisão sobre o início e o fim de nossa vida não esteja em nossas mãos. Se estivesse, provavelmente atentaríamos contra nós mesmos. É bom depender de outros e de Deus, pois, como diz Eclesiastes, “se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão” (4.12).


Em segundo lugar, existe um perigo: na fase em que governamos nossa vida, a fase do meio - a fase produtiva, do trabalho, da produção de bens e da reprodução da espécie, governando outros seres que chegam ao mundo - Deus e as outras pessoas correm o risco de sobrar. Igreja pra que? Comunidade pra que? Deus pra que? Vizinho pra que? Sentimos muito vigor. Viva eu no comando! Como é gostosa a sensação da autonomia! “Ser dono do próprio nariz, era o que eu sempre quis!” De repente, porém, eis que estamos de novo nas mãos de Deus e de outras pessoas, tomando isso e aquilo. Por isso é bonito o Salmo 90: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos coração sábio”.

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